O Manifesto dos Introvertidos
Texto por: Sérgio Monteiro
Muitas vezes, os introvertidos são mal compreendidos e subestimados em nossa sociedade, que tende a valorizar a extroversão, a capacidade de se comunicar facilmente, de ser efusivo e até falastrão. No entanto, a verdade é que os introvertidos têm habilidades únicas e valiosas que são muitas vezes esquecidas ou ignoradas.
Os introvertidos são frequentemente caracterizados como pessoas tímidas e reclusas, que preferem a solidão e o silêncio ao barulho e à agitação. Embora isso possa ser verdade em alguns casos, nem todos os introvertidos são tímidos ou introvertidos o tempo todo. O fato é que muitos introvertidos são bastante extrovertidos em certas situações, como quando estão entre amigos próximos ou em ambientes familiares.
Ícones como Warren Buffett, Charles Darwin, Al Gore, J.K. Rowling, Albert Einstein, Mahatma Gandhi e Larry Page do Google, Bill Gates, Abraham Lincoln são alguns exemplos de líderes introvertidos.
De acordo com Susan Cain, autora do livro Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking, nas últimas décadas, esse “ideal extrovertido” transformou os locais de trabalho. O trabalho independente e autônomo que favorecia a privacidade dos funcionários foi destruído e praticamente substituído pelo que ela chama de “O Novo Pensamento de Grupo”, que “eleva o trabalho em equipe acima de tudo”. As crianças agora aprendem em grupos. As ideias nas empresas são formadas em sessões de brainstorming. Os falantes são considerados mais inteligentes. Os funcionários são contratados somente por “habilidades pessoais” e os escritórios são projetados para serem abertos e interativos.
Em seu livro, Susan não está buscando a dominação introvertida ou fazendo uma crítica pura e exclusiva aos extrovertidos. Ela reconhece que grandes ideias e grande liderança podem vir de qualquer tipo de personalidade. O que ela quer é um melhor equilíbrio e inclusão de diferentes estilos de trabalho. “Na maioria das entrevistas de emprego, as pessoas dizem que procuram habilidades pessoais e inteligência emocional”, observa Cain. Isso é razoável, mas a questão é: como você define isso de fato?
Na área de tecnologia é muito comum encontrarmos pessoas introvertidas que querem privacidade e tranquilidade para poderem trabalhar e entregar o seu melhor nas suas atividades. Pessoas competentes que talvez não se encaixam nesse padrão comentado pela Susan. Quando colocamos essas pessoas em situações que envolvem interações prolongadas e exposição, é perceptível a diminuição da energia e ânimo. É necessário cuidado com essa pressão de ter que ser extrovertido, de ser necessário se expor o tempo todo e de ter que ser popular na sua área de atuação. Atualmente essas situações tem se tornado um grande consumidor de tempo e alterado negativamente o estado mental de muitas pessoas.
A verdade é que o poder dos introvertidos vem da sua habilidade de se concentrar profundamente em suas atividades e interesses, preferem se concentrar em uma coisa de cada vez. Isso lhes permite mergulhar profundamente em um assunto adquirindo conhecimento e habilidades especializadas que são altamente valorizadas em muitas áreas.
Além disso, os introvertidos tendem a ser muito observadores e perceptivos. Eles notam pequenos detalhes que passam despercebidos pelos outros, o que lhes permite ter uma visão mais profunda e holística das situações. Essa habilidade é particularmente valiosa em áreas como a arte, a escrita, o desenvolvimento de software, a pesquisa científica e a resolução de problemas complexos.
Normalmente os introvertidos também tendem a ser muito reflexivos e introspectivos. Eles pensam muito antes de falar ou agir, o que os torna excelentes ouvintes e conselheiros. São capazes de oferecer insights e conselhos que vêm de uma compreensão da natureza humana, do comportamento humano e do contexto ao qual ele está inserido.
Outra habilidade comum nos introvertidos é a capacidade de trabalhar de forma independente e autônoma. Eles não precisam da estímulo externo constante para serem produtivos e eficazes. São capazes de trabalhar com diligência e perseverança para alcançar seus objetivos. Fazer micro gestão em qualquer tipo de perfil é um péssimo hábito na minha humilde opinião, fazer esse tipo de gestão com um introvertido o efeito colateral é ainda pior. Esse nível de interação além de diminuir a sua energia, desafia a sua motivação para realizar o trabalho.
Por fim, os introvertidos tendem a ter relacionamentos profundos e significativos com um pequeno grupo de amigos e familiares próximos. Embora possam não ser tão sociais quanto os extrovertidos, eles são frequentemente descritos como amigos e parceiros fiéis e confiáveis.
Em suma, os introvertidos têm habilidades valiosas que são frequentemente subestimadas. Em vez de menosprezarmos os introvertidos, devemos valorizar a possibilidade de tê-los nas equipes como elemento importante no fortalecimento de um grupo.
Esse manifesto diz respeito às minhas observações até então. Observações essas feitas dentro dos contextos aos quais vivi e baseado em livros e artigos que tive a oportunidade de ler. Acredito ter generalizado em alguns pontos e também assumido algum viés.
Sobre Sérgio Monteiro
Profissional de tecnologia e empreendedor com mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento de software, formado em Sistemas da Informação pela FIAP, com conhecimentos sólidos em Engenharia de Software, DevOps, Agile e UX.